segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mais descobertas (capítulo 6)

Sete dias depois de ter dado entrada no hospital, nenhum familiar tinha procurado Valentine. As enfermeiras se perguntavam quem poderia ser aquela moça tão bela e misteriosa. Desde que chegou, dormia um sono profundo, sem se dar conta dos ferimentos em sua pele. O traumatismo e o inchaço na cabeça regrediam a cada dia, mas ela não acordava.

Foi então que apareceu uma mulher à sua procura. Ela disse que se chamava Triskelle e que era tia de Valentine. Dona de um olhar altivo e hipnotizante, Triskelle era capaz de convencer qualquer pessoa daquilo que dizia, portanto, em poucos minutos, ela já estava dentro do quarto, a sós com a jovem bruxa. Ao chegar à beira da cama, olhou com ternura para a garota. Tocou e leve a sua face, balbuciando palavras inaudíveis. De repente, uma luz flamejante tomou o seu olhar. Triskelle pegou na mão de Valentine e num tom imperativo, disse:

- Rowenah, ordeno que volte! Ainda não é hora de partir!

Lá no fundo de sua consciência, Valentine ouviu alguém pronunciar seu nome mágico. A voz parecia distante, muito além de seu alcance. Queria responder, mas a fala não saia de sua boca. Depois de ficar ali por alguns minutos, Triskelle tocou a testa da bruxa e traçou com o dedo um pentagrama entre as sobrancelhas. Saiu do quarto, deixando pelos corredores o rastro de fogo dos seus cabelos e da sua presença marcante, quase sobrenatural. No dia seguinte, Valentine despertou, procurando entender onde estava. Tentou se mover, mas então, deparou-se com a dor. Ergueu lentamente a mão e tocou a cabeça ainda enfaixada. Nesse momento, lembrou-se do acidente.

- “Valentine, você acordou!” Uma enfermeira adentrou o quarto para ministrar-lhe os medicamentos e espantou-se com a novidade.

- Há quanto tempo estou aqui?

- Ontem completou uma semana. Sua tia veio visitá-la.

Mesmo estranhando a afirmação da enfermeira. Guardou para si a indagação. “Quem poderia ter-se feito passar por minha tia?!” de repente, veia à tona em sua memória o chamado que ouvira na noite anterior. “Ninguém conhecia seu nome mágico, senão... Triskelle!! Não pode ser!”A face da moça empalideceu subitamente. Percebendo a perturbação da menina, a enfermeira tratou de deixá-la à vontade.

- “Descanse um pouco. Em breve um médico virá vê-la. Estou feliz por você ter acordado. Meu nome é Irene. Se precisar de algo, é só apertar esta campainha.” Sorriu gentilmente e saiu, levando consigo a bandeja de medicamentos.

Valentine estava agora a sós com seus pensamentos. Fragmentos de lembranças iam e vinham, trazendo um sentimento de desespero. O ritual, a visão, o acidente e Brian; sempre Brian... a moça fechou os olhos e, em flashes, viu-se desacordada no carro, um pássaro negro pousado na árvore e Brian ajoelhado ao seu lado. Lembrou da descarga elétrica que sentiu quando ele tocou sua mão.

“Terá sido um sonho?!” Apesar de tantas visões e encontros, os dois nunca haviam se tocado realmente. Sentiu Brian limpar carinhosamente o sangue que escorria de sua testa e leva-lo à boca, como quem quisesse sorver toda a sua dor. Sem perceber, Valentine deixou as lágrimas caírem dos olhos e soube. Tinha acontecido de verdade.

Passaram-se duas semanas, Valentine havia voltado à sua vida normal após o acidente, sempre pensando em Brian. Tinha a impressão de que talvez ele tivesse ido embora da cidade, mas não o culpava por isso, se pudesse faria o mesmo. Ela tinha dúvidas a respeito de todo o ocorrido na noite do ritual, algumas vezes chegou a pensar que fossem coisas de sua imaginação, e as vezes achava que talvez sua avó tivesse colocado algum tipo de encanto no espelho para que ao usá-lo visse tudo o que viu.

O fato era que, desde aquela noite ela não parava de ter sonhos estranhos, sempre com sua avó ou Brian, em alguns deles o horrível homem de capa preta aparecia sorrindo com uma expressão demoníaca, a música que tantas vezes cantou em sua infância não saía de sua cabeça, como se quisesse lhe mostrar algo, como se fosse algum tipo de mensagem subliminar. À noite Valentine se sentava na varanda de sua casa e passava horas registrando e relendo tudo o que havia sonhado, algumas coincidências que haviam ocorrido durante o dia e também várias intuições que lhe vinham à mente.

Numa noite clara e fresca, Valentine resolveu dar uma volta pelo bairro, pensativa e absorvida por seus pensamentos não percebeu que caminhava em direção a uma parte afastada de seu bairro, um local imenso com algumas arvores salpicadas e uma enorme construção abandonada, parou surpresa quando notou o quanto havia caminhado sem se dar conta. sussurrou para si enquanto ria encabulada, já ia dando meia volta quando algo lhe chamou a atenção, a lua iluminava em cheio uma imensa árvore ao lado da construção, ela parecia ter mais de cem anos, suas enormes raízes chegavam a ser macabras de tão grossas e entrelaçadas.

Valentine sentiu uma leve tontura e teve que ajoelhar-se no chão para não cair, abriu os olhos e sentiu um gosto estranho na boca, uma mistura de cedro com âmbar, olhou para o chão e viu que uma estradinha com pequenas pedrinhas iam até o pé da árvore, com o coração acelerado Valentine olhava paralisada para a árvore enquanto a velha canção voltava à seus ouvidos.
“...Se essa rua, se essa rua fosse minha...”

A paisagem começou a mudar diante de seus olhos e então viu-se no mesmo local daquele estranho sonho. Haviam muitas árvores, a construção tinha desaparecido e bem ao fundo a enorme árvore reluzia uma luz sobrenatural. Ao lembrar-se dos olhos azuis sentiu a vista escurecer e então toda a paisagem se desfez tão rápido quando havia surgido, mas então, lembrou-se de quando Brian a procurou na biblioteca com o recorte de jornal, não havia dado muita importância naquele momento, mas agora podia ver nitidamente, quando ele havia apontado para a pessoa que queria encontrar, viu atrás dessa pessoa a “Construção” que agora estava diante dela.

As coisas pareciam começar a fazer sentido e sabia que só precisava juntar as peças deste enorme quebra-cabeças. Levantou-se e correu para casa, tinha guardado o recorte como uma lembrança daquela mágica tarde em que seu sonho se tornou real, só precisava se lembrar onde. Assim que Valentine se afastou um brilho dourado cintilante manifestou-se no alto da imensa árvore e sumiu no ar.

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