sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O plano de Lucius (capítulo 8)

Lord Lucius Stirb Nicht era o maioral de sua falange na Esfera das Sombras. Mas as coisas nem sempre foram assim. Em lugares como esse, a força era a única forma de garantir um lugar no topo. Quem não conseguia se sobressair e dominar, era submetido à escravidão, acorrentado aos desejos de seus superiores, vendendo-se fácil por um pouco de prazer.

A Esfera das Sombras era uma dimensão muito próxima da Esfera Terrestre. A força era mantida por uma egrégora de sentimentos baixos ou inferiores. O ódio, a ganância, o egoísmo, a inveja, os vícios e a energia sexual doentia eram o alimento que mantinha a atmosfera ideal e a sobrevivência daquele mundo. É por isso que aqueles seres amavam tanto os homens. A existência daquele mundo dependia das emoções fartamente cultivadas pela humanidade em uma sociedade cada vez mais individualista. Os seres sombrios fingiam prestar favores aos homens, influenciando-os a praticar atos que fizessem crescer a energia negativa da qual dependiam. E os humanos, em seus medíocres intentos, ainda pensavam dominar as forças sombrias.

Lucius tinha um plano ambicioso. Queria concretizar a criação de um ser, metade homem, metade sombrio. Ele seria ao mesmo tempo, uma entidade cheia de poderes e um humano-fonte de energia. Sugaria a essência humana em sua plenitude e levaria ao seu mundo os fluídos corpóreos tão desejados naquela dimensão. Um experimento que desafiaria a tola ciência terrestre e também as leis do universo.

O lord estava acostumado a se relacionar com espíritos de mulheres que se desdobravam em sonho para ter com ele, momentos de prazer extra-sensorial. Ele tinha o poder de plasmar a figura que melhor lhe conviesse, tornando-se atraente para as suas vítimas. Algumas delas iam por sua própria vontade, outras, inconscientes, eram atraídas como mariposas à luz, sem perceber que estavam tendo sua energia vital drenada pelo vampiresco ser.

A mãe de Brian era uma mulher dotada de certos dons que permitiam a ela, fazer fabulosas viagens astrais. Quando se deitava para dormir, ansiava por conhecer outras dimensões. Foi em um desses passeios, andando na planície esverdeada de um campo, que ela avistou pela primeira vez aquele que seria o seu amado e a sua perdição, a pior desilusão, o sonho que acabaria com a felicidade de seus dias.

Sentado sobre um manto ricamente adornado no alto da colina, Lucius sustentava a postura de um Rei. Mantinha o olhar perdido no horizonte, onde se via a silhueta de uma vila coroada por nuvens de chumbo. Relâmpagos que vez ou outra, iluminavam tudo ao redor, mas ali onde estavam, acima de suas cabeças todas as constelações queriam brilhar. O homem bebia numa taça de ouro o prazer sensual de um bom vinho.

Cassiana, ao longe, observava aquele homem que era a materialização de todos os seus mais secretos desejos. Livre, seu espírito não necessitava das amarras sociais que a impediriam de se aproximar dele. Ao pensar nisso, instantaneamente, já estava lá, partilhando com ele a taça de ouro e trocando olhares que diziam tudo sem precisar abrir a boca. Foi ali, tendo a lua crescente como testemunha, que seu coração se acorrentou ao ser que traria a luz e as trevas para o resto de sua existência.

No manto negro da noite salpicada de estrelas de prata, seus corpos se uniram em perfeita conjunção astral. As mãos de Cassiana deslizavam pelas costas de seu amante desconhecido, sentindo o estranho calor de seu corpo. Segurando os longos cabelos negros entre os dedos, Lucius beijava sua boca demoradamente, saboreando a energia imaculada da mulher, que tremia de desejo. Ele tocava seus seios vestidos de luar, como quem venera a perfeição. Ao inspirar o ar fresco daquela noite mágica, ela se transformou em Deusa cortejando seu consorte. Sabia que guardava em si o poder, algo que ele desejava e que ela estava disposta a entregar.

Foi assim, sem pressa, da mais cuidadosa e gentil maneira, que o ardiloso ser das trevas possuiu a alma de Cassiana. Mas naquela noite, entregue ao torpor dos desejos saciados, ela deixou-se adormecer nos braços de seu algoz com a paz que experimenta uma mulher plenamente satisfeita.

O dia amanheceu como se aquela noite não tivesse acontecido. Cassiana acordou em sua cama, sentindo a cabeça girar. Levantou-se e uma vertigem a obrigou a se sentar novamente. Estava cansada; tinha a impressão de que fechou os olhos nos braços de Lucius e acordou em seu quarto no mesmo instante. “Devo estar ficando louca. Nunca tinha vivido uma experiência como esta!” Do alto de sua torre na Esfera das Sombras, Lucius sorria vitoriosamente. A semente estava lançada no coração de Cassiana. Agora, só faltava plantá-la em seu ventre.

Um comentário:

  1. Quase um Don Juan, esse Lucius, rsrs

    Mas não duvido nada Cassiana também ter um plano sórdido por trás dessa história...
    Vai dar um susto no "monstrengão" =p

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