segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um encontro inesperado (capítulo 7)

Num lugar muito distante do presente mundo de Valentine, onde o céu era de um azul esverdeado e cheio de limbo, onde o chão escurecido dava a impressão de areia movediça e um forte nevoeiro cobria tudo como um espesso véu, Brian tentava se concentrar nas batidas do coração de sua amada.

Deitado no chão podia sentir suas forças desaparecendo juntamente com o som que tantas vezes o levou de encontro à garota que precisava proteger. Estava com a boca seca e a visão turva, sentia-se desaparecendo, detestava aquele lugar, mas agora sabia que estava mais perto de ter que viver ali para sempre. Fechou os olhos, não podia se desconcentrar, precisava ficar atento, mas estava difícil manter-se focado em algo, sentiu um peso sobre o peito e depois uma sensação de sufoco, perdeu a consciência e caiu num sono profundo.


Brian tinha acabado de abrir os olhos e notou que o ambiente estava todo mergulhado numa luz dourada cintilante que cresceu e depois se apagou. Focalizou melhor a silhueta à sua frente, a imagem foi ficando mais nítida e então a surpresa o fez quase cair da cama em que estava.
- Ma... mas o que é isso??- afastou-se meio cambaleante e ficou encostado na parede olhando para a velha senhora que sorria alegre para ele.

- Que modos são esses rapaz? Até parece que viu um fantasma.- a velha deu de ombros e foi em direção à cozinha enquanto cantava algo que Brian não entendeu.
Brian se levantou, ainda zonzo, haviam passado cinco semanas desde que perdeu os sentidos. Ele caminhou lentamente até a cozinha, apoiou-se na porta e ficou a observar aquela senhora tão alegre que dançava enquanto cozinhava algo.

A senhora virou-se abruptamente encarando o rapaz.
- E então meu querido, passou o susto?- olhava para ele com ternura.
-Eu não entendo...- Brian tinha impressão de que tudo aquilo era um sonho.
- Sim, você tem razão em achar que é um sonho. Se parece, é porque é. – agora ela o arrastava pelas mãos levando-o até a varanda da casa.

Brian ficou ainda mais assustado. Como ela conseguia saber o que ele pensava?
- Elementar meu caro ou devo dizer Elemental? Disse a velha, soltando uma gargalhada.
O rapaz se sentia meio tolo, não gostava de ser feito de bobo.
- Como pode estar aqui se você morreu?
- Ora, ora, eu lhe pareço morta por acaso?
- Não, mas...
-Pois então? Como pode me fazer uma pergunta boba dessas? Ainda mais você Brian!?
- É que eu não esperava te encontrar, não ainda.
- Deixe de conversa, você sempre soube que eu era a guardiã de Valentine.
-Sim, mas achei que vocês, “guardiões” não podiam aparecer para qualquer um.

Neste ponto a velha desatou a rir, chegou a soluçar de tanto que riu. Brian fez cara de bravo e emburrou.
- Me perdoe criança, mas é que você ainda vai me matar de rir com esta sua mania de se achar “qualquer um”.
Brian deu de ombros e sentou-se na cadeira que estava na varanda, olhou a paisagem e viu que cada detalhe era mais nítido do que estava acostumado, o céu tinha uma cor azul que descia num degradê rosa sempre mudando de posição, a energia do local era muito intensa e se oferecia a ele de uma forma quase que submissa, ele não precisava tomá-la para si.
- Onde estamos?- perguntou ainda maravilhado com tudo o que sentia naquele lugar.
- Aqui é o meu mundo.- respondeu enquanto se acomodava ao lado dele.
-Porque me trouxe aqui?- uma grande tristeza o invadiu ao pensar em Valentine, sentia que estava muito longe dela, não ouvia seu coração bater e nem sentia suas vibrações aconchegantes.
- Não se preocupe, eu apenas bloqueei teus sentidos, você não está tão longe assim de Valentine.

Brian olhou para ela e ficou esperando detalhes. A velha recostou-se na cadeira e depois de um longo suspiro falou:
- Brian, vocês estão chegando ao fim de um ciclo, precisei interferir porque seu pai se meteu entre vocês dois e está atrasando o fechamento desta busca. Não posso permitir que mais uma vez ele defina o rumo das coisas, não desta vez... Também não tenho muito tempo por aqui como guardiã de Valentine. Logo terei de partir para outros lugares, tudo o que eu podia fazer eu tenho feito, até mesmo encarnar como avó dela eu encarnei, mas agora não temos muito tempo e eu não posso interferir nas escolhas, posso apenas mostrar-lhe o caminho, mas somente ela poderá decidir como e quando seguir.

Brian levantou-se, sentia-se renovado, a energia que recebia daquele local o havia refeito. Olhou para o horizonte, uma nuvem solitária seguia lentamente pelo céu multicor, agora os raios de um sol em despedida pintavam tons alaranjados sobre a tela rosa e azul que era aquele céu. Suspirou resignado, não sabia o que fazer.

-Hoje estive com ela, sem que soubesse, dei-lhe uma visão importante, confio na capacidade de Valentine e tenho certeza de que ela irá desvendar todos esses segredos e em breve você estará livre meu garoto. A velha abraçou Brian e beijou-lhe a face. Uma luz dourada iluminou todo o ambiente e o envolveu, ele fechou os olhos e quando abriu já estava sobre o telhado da velha fábrica.

A lua estava linda no céu negro daquela noite tão estrelada, respirou o ar puro e fresco, sentiu seu corpo todo arrepiar-se ao receber a energia que Valentine lhe enviava sempre que pensava nele, sorriu satisfeito quando começou a ouvir seu coração pulsante, e colocou-se a correr sob o telhado transformando-se num corvo e seguindo aquele som maravilhoso, o som da vida, o som que vinha de seu amor eterno!

Em casa, Valentine revirava as gavetas, nervosa já havia feito a maior bagunça por todos os cômodos e não tinha encontrado nada. Sentou-se no chão com a cabeça entre as mãos, estava furiosa por não ter guardado num lugar mais fácil de encontrar, já ia desistir quando uma imagem apareceu em sua mente. “O baú da vovó!”
Correu pelo corredor e num único puxão fez com que as escadas do sótão descessem. Subiu às pressas, lá em cima acendeu a luz fraca e avistou o baú empoeirado perto da janela, correu até ele com o coração aos pulos, abriu e no fundo dele encontrou o recorte amassado, aproximou-o e verificou que era a mesma construção, olhou para o homem da foto, a respiração pareceu falhar.
- Não pode ser...
Aproximou o recorte da luz e ao olhar melhor para o homem sentiu suas pernas tremerem, uma sensação de angústia a fez deixar cair o recorte e levando a mão ao rosto sussurrou:
- O homem da capa preta...aquele horrível homem...

3 comentários:

  1. essa estória está demais,não vejo a hora de ler o proximo capitulo!

    bjs lindas!!!

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  2. Meninas, a história está demais!

    Acho tão... poético o modo como Brian sente Velentine: pelas batidas do coração...

    Ahhh, confesso que tenho me identificado com ele... rsrs

    Ando totalmente perdido entre sonho e realidade, ambos sendo um mesmo ambiente, os sonhos revelando coisas que me ocultam no mundo desperto...

    Falta muito pra eu virar corvo? ^^-

    Beijos

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  3. Então, é esse o blog que vc me disse que escrevia junto com a Neith? Li só esse post e fiquei boiando na história, mas vou ler os outros para entender melhor!

    Só pra avisar que eu visitei!!!

    Beijocas, amiga!

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